Fotografia: Henk Helmantel (b. 1945)
A cerâmica é uma daquelas criações humanas muito pouco valorizadas, pois na
maior parte é feita de substâncias simples e facilmente encontradas, geralmente são
feitas de uma mistura de argila, feldspato, sílica e quartzo.
O que a torna forte é a junção de elementos, o que a torna durável é a conservação
desses elementos mantidos no mesmo estado em que foi alcançado quando a
cerâmica foi composta. Contudo, como tudo, apenas a inercia a preserva, pois as
vezes basta um simples toque desastrado e suas partículas atômicas se romperam,
e cada milimétrico centímetro de rocha milimétricamente fundida, será partido em
um chão, talvez uma pia, se espalhando em múltiplos cacos, podendo inclusive ao
cair respingarem em nossa pele, nos cortando, ou as vezes ao tentar impedir o total
colapso dessa estrutura, metemos a mão no mais pontiagudo pedaço. Nossa pele por sua vez, é feita de tecidos, tecidos orgânicos, frágeis como tecidos não orgânicos, mas com o adicional da dor.
Ao pensar em cada caneca que por minhas ''desastresas'' fui responsável em
derrubar, e pelos mesmos motivos, responsável em me cortar, e ainda pelos
mesmos motivos responsável por tentar recuperar algo que a física quebrou e que a
química não permite que seja ressuscitado. A par desses fatos, ganhamos novas
canecas com uma certa frequência, a cada queda, vamos aprendendo a deixar
quebrar, e cada nova caneca, vamos aprendendo a não deixar cair. Chamam isso
de maturidade, as vezes acho que é tortura, as vezes chamo de desnecessário, mas
sei como se chama. É inevitável quebrar as canecas. Deus seja louvado pela quebra
das canecas. Deus castigue o escritor pela sua redundância.
Escritor: Mike William
País: Brasil
Redes sociais: @mikewilliam_pupo
Muito bonito. Consistente com uma realidade que hoje nos persegue.