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  • Foto do escritorBeatriz Chiara

Amigos


Fotografia: Ben Lewis Giles


Nunca fui bom de fazer amigos… Quando criança, por ser o filho mais novo, ou o que

veio quando os pais estão mais velhos, fui em poucas festas de coleguinhas de escola.

Não que eu não tivesse convites… Mas lembro que meus pais estavam na grande labuta

cansada, de trabalho, e num sobrava muito ânimo para conseguir me levar ou sequer de

lembrar que tinha convite de aniversário na geladeira… lembravam quando tinham que

tirar de lá e olhavam e soltavam aquele verídico: “noooossaaaa” passou e eu nem

lembrei.


No colégio os amiguinhos não eram distantes, lembro que tinha um que chamava-se

Cauã ou Cauê que me batia, hoje penso que isso devia ser porque ele via gente

apanhando, ou gente batendo ou ele apanhava. Eu apanhava também… Mas eu tinha

tanto medo de quem batia que… Com isso, eu tinha medo de bater e serem mais fortes e

me aniquilarem.


Tinha também os que se diziam amigos mas uma vez acordei do cochilo do colégio com

o berro da professora: “JOÃO PAULO!! NÃO CORTA A MÃO DO COLEGUINHA”. Ele era amigável, mas me chamava de verruguento de barata. Nessa escola também aprendi que amar não era algo muito legal, quando escrevi que amava Thuanny atrás do quadro da sala de xadrez, zoaram de mim de um tanto que aí compreendi que quando se ama não se fala sobre, pra ninguém, nem para amigos, porque eles te zoam. Ao crescer vi que amigos não só te zoam mas que às vezes pegam sua ex no recém termino. Talvez por isso eu tenha me tornado num paranóico fudido.


Quando cresci tinha amigos, que no dia do meu aniversário começaram a rir do corte

que eu estava orgulhoso de ter. Aí minha irmã, me contou um desses segredos da vida

que as pessoas despretensiosamente contam, ao chegar em casa, que as vezes estamos

cercados das pessoas erradas e achamos que eram as certas. Isso eu levo até hoje e…

leitor, essa é uma das maiores dicas de ouro sobre amizade que tive.


Depois de um tempo percebi que amigo era quem tava lá quando tava tudo uma merda.

Quem tava lá pra te ouvir e te cuidar era amigo, até que seguindo essa dica que tantos

me disseram, percebi que isso quem nunca cansa é só mãe, irmão ou pai. De resto quase

todos cansam.


Consegui entender que com quem eu conversava a fio, que virava noites mandando

SMS ou na casa dessa pessoa. Nisso eu já pegava ônibus e não dependia tanto da

disposição dos meus pais. Amizade me fez querer me independer dos meus pais para

tudo.


Mas hoje, nessa era digital, onde incansáveis mensagens são enviadas, acho que ainda

não sei o que é amigo ou amiga. Eu nunca fui bom de manter contato, mas guardo

algumas pessoas dentro da minha alma como ninguém sabe. Não mando mensagem,

não porque não lembro, mas quando lembro, essas pessoas estão longe, ou o celular tá

longe ou a pessoa não responde. Eu nunca fui bom de ser amigo digital.

Fiquei calado, meio amuado… Como aprendi com os portugueses, que não se toca

muito em quem não se tem confiança e com minhas histórias entendi que confiança não

se cria fácil, nem se molda rápido nem se verifica em menos de anos.


Passei por vários coleguismos e Seu Itarci, um negro forte e velho que conheci no meu

prédio da 412, residência de minha infância, me falou isso, amigo é família e só. Colega

é amigo e amigo é colega, ele tinha sido despejado pela polícia federal em um dia muito

triste da minha vida. Quando viveu isso talvez percebeu que quem tava ao lado. tava de

canto e quem tava de canto, tava distante e quando falta tudo tudo, só sobra família, se é

que resta família… Depois da bipolaridade desse país Brasil… Sabe-se lá…

Hoje sei que tenho amigos, poucos, amigas algumas, as que a gente não se perdeu na

mistura dos afetos ou a que as misturas dos afetos não afetou o amor. Mas isso não

dispensa a solidão de perceber que sem diversão, amigue é um pepita de ouro nesse véi

mundão sem porteira.


Escritor: André Brandão

País: Brasil

Redes sociais: @obrandspoeta

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